O presidente da Abredif (Associação de Empresas e Diretores do Setor Funerário), Lourival Panhozzi, divulgou nesta semana, na imprensa capitalista, dados que apontam o país tem um estoque de cerca de 100 mil urnas funerárias, ao mesmo tempo em que estimou que serão necessárias mais 400 mil para conseguir absorver o número de óbitos por conta da pandemia.
Ao mesmo tempo, distintas pesquisas realizadas por estudiosos do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) , com base em registros hospitalares apontaram que o número de pessoas que morreram em decorrência de casos confirmados ou suspeitos da doença no país pode já ter passado de 410 mil. Os estudos reforçam as denuncias que nós e outros setores fazemos há tempos (com base em estudos dos cartórios de registros civis) de que os números “oficiais” estariam defasados em cerca de 50%.
Em termos reais, estaríamos muito próximos de superar a marca de mais de meio milhão de mortos na pandemia, batendo recordes diários de óbitos e casos, em meio a um gigantesco colapso da saúde pública e da economia.
E nestas condições, setores da extrema direita estão se organizando para comemorar os 57 anos do golpe militar e celebrar o apoio ao governo ilegítimo de Jair Bolsonaro que, junto com governadores golpistas e outras instituições do regime são os responsáveis pela situação de caos e retrocesso que o País vivencia mais uma vez.
Os que querem comemorar o aniversário do golpe militar de 1964, são os mesmos que estão tentando impedir toda forma de protesto da população contra os desmandos dos governos estaduais e do governo federal diante do desemprego, da fome e da morte. Que vem reprimindo violentamente a população trabalhadora, buscando responsabilizar o povo pela pandemia para ocultar a responsabilidade dos verdadeiros criminosos e genocidas, responsáveis pelo morte diária de mais de 3 mil brasileiros por dia, que estão à frente dos governos federal, estaduais e municipais, do Congresso Nacional, do Judiciário e das grandes corporações capitalistas que adotaram a política do “deixar morrer” para defender seus mesquinhos interesses contra a imensa maioria da população.
Além de provocar a morte de centenas de milhares, eles estão impondo a volta de instrumento da ditadura militar como a famigerada Lei de Segurança Nacional (LSN). Só nos últimos dias, cinco manifestantes foram presos em Brasília por erguer uma faixa com os dizeres “Bolsonaro genocida” e dezenas estão sendo processados por postarem mensagens e imagens de protestos contra o presidente por ocasião de sua visita recente à Uberlândia. O número de inquéritos abertos pela Polícia Federal utilizando essa lei quase triplicou nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro. São por demais evidentes os sinais de que os apoiadores da ditadura de ontem, querem levar para o mesmo rumo o já profundamente antidemocrático regime político de hoje.
Com o mesmo objetivo, tramita no reacionário Congresso Nacional, dominado pelo “centrão”, diversos projetos que visam tornar ainda mais repressivas as leis antiterroristas aprovadas em 1999, 2001 e 2016. Querem até mesmo caracterizar como atos de terrorismo ações derivadas de manifestações sociais (como a depredação de um banco ou uma loja) ou a invasão de bancos de dados na Internet (como o recente caso do documentos da Lava Jato que foram vazados por um hacker). Alguns projetos, como o do reacionário senador recém-falecido, Major Olímpio (PSL-SP), pretendem colocar na cadeia por até 30 anos os que forem enquadrados por essas leis.
Querem simplesmente suprimir o direito demorático, legítimo da população protestar e lutar pelos seus interesses. Estão se prevenindo porque sabem da tendência à revolta popular que suas ações criminosas contra o povo tende a despertar. Temem as inevitáveis manifestações dos trabalhadores diante das mortes, da falta de atendimento, da fome generalizada, do desemprego em massa, da redução salarial de amplas camadas e da miséria.
O caos em que vivemos atinge não apenas a saúde, com milhares de pessoas morrendo nas filas de espera por vagas em UTIs ou por falta de oxigênio até mesmo em grandes centros como São Paulo. Não se trata apenas dos corpos amontoados nos chão dos hospitais, como em Brasília, e “estocados” em contêineres, como no Rio Grande do Sul. A situação vem se tornando ainda mais desesperadora para metade da classe trabalhadora que está desempregada ou vive de bicos. A crise se expressa ainda na imensa onda de fome (um tsunami!) que já atinge 100 milhões de pessoas, incluindo os que diminuíram o número de refeições diárias e até os que comem ocasionalmente, “quando tem”.
A burguesia golpista, isto é, a direita que domina o Estado e o panorama político desde o fim da ditadura militar, não tem nenhuma solução a não ser fazer discursos, encenar uma vacinação quase inexistente e ameaçar cada vez mais o povo, com repressão e cassação dos seus direitos democráticos. Enquanto isso, distribuem bilhões de reais para os banqueiros e um reservado grupo de monopólios que ganham com o sofrimento do povo: os latifundiários que lucram com a exportação de alimentos; os laboratórios que ganham rios de dinheiros com as vacinas que não chegam; os especuladores que ganham com a alta dos combustíveis etc…
A direita não pode ser parada – como já ficou amplamente demonstrado na história recente – por meio de inúteis acordos com setores da própria direita ou por meio de articulações no interior das carcomidas instituições do regime, como o Legislativo e o Judiciário, amplamente dominadas pela direita. Isso só é possível por meio da mobilização dos explorados, por suas reivindicações imediatas diante da crise, contra a política genocida de Bolsonaro e de toda a direita golpista.
A revolta do povo, de um jeito ou de outro, vai se manifestar como uma reação à situação de morte, fome e miséria que a direita está impondo. Os primeiros protestos e saques são sintomas de uma crise prestes a explodir. Essa luta deve ser impulsionada pelas organizações dos explorados, da cidade e do campo, e precisa estar unificada com a necessária luta política pelo fim do atual regime golpista, pelo fim do governo Bolsonaro, do governo Doria e de todos os golpistas, em defesa dos direitos democráticos de Lula e de todo o povo, contra a ditadura, do passado e do presente.
Dia 31, eles querem comemorar, a morte, a tortura, o assassinato de pessoas indefesas, a violação dos direitos do povo. A esquerda precisa se erguer, abandonar a política de conciliação, de seguidismo à direita golpista e chamar o povo a sair às ruas. Dia 31, todos às ruas contra a ditadura de ontem e de hoje!