Em sua coluna escrita no portal da internet UOL, o articulista Leonardo Sakamoto realizou uma análise sobre aquilo que ele considera serem os malefícios herdados do golpe militar de 1964 e busca apontar supostas soluções para resolver o problema de tutela militar sob o regime político nos dias atuais.
Sakamoto começa seu texto afirmando que “o Brasil deve conseguir mandar ao xilindró alguns generais por conspirarem para manter Jair Bolsonaro no poder mesmo após perder a eleição de 2022.” Sua afirmação vem junto com a ideia de que é preciso ir além e pretender todos os setores das Forças Armadas que atuam conspirando contra o governo. Segundo Sakamoto, o combate as Forças Armadas deve ser feito judicialmente e recuperando o tempo perdido com a Lei da Anistia aplicada no fim da ditadura militar. Nesta sua concepção, militares como Mourão, Heleno, entre outros, estariam para ser presos a qualquer momento, graças à ação policial.
No entanto, apesar de admitir que a eventual prisão de alguns generais não seria o suficiente para conter as Forças Armadas contra o governo, o articulista afirma que este é o caminho correto para se combater a pressão gerada pelos militares. Indo além no terreno das propostas, o colunista também coloca que há outras forças de combater este problema:
“Uma das formas de frear é proteger o ensino de História nas escolas contra a sanha estúpida de pessoas e movimentos que desejam que você aprenda a data em que João Goulart foi deposto em 1964, mas que isso não representou um golpe de Estado e foi feito dentro da lei. Ou que os estudantes decorem o texto da Lei Áurea, mas não debatam por que o 13 de maio de 1888 não significou autonomia aos negros e negras deste país”, declara Sakamoto.
Além disso, Sakamoto afirma que a importância do ensino é semelhante a evitar a queima de livros realizadas pelos nazistas em 1933. E que, conforme afirma, a “burrice” seria algo “atemporal”, em relação ao povo brasileiro.
Suas primeiras concepções já deixam claro que o colunista, apesar de se colocar como um opositor a pressão dos militares, não tem nenhuma proposta concreta que como combater este problema. A ideia de que o problema de um golpe de Estado se daria devido à “burrice” da população é uma ideia absurda. Em primeiro lugar, o problema central da política de golpe de Estado é a relação de forças que o governo e as Forças Armadas possuem. Hoje, o governo Lula se vê cada vez mais enfraquecido, não possuí qualquer base no congresso e nem apoio nas instituições. Como combater neste cenário os militares? Dependendo apenas de medidas judiciais? Investindo em educação?
Sakamoto ainda chega ao ponto de afirmar que para ajudar no combate as Forças Armadas “deveríamos transformar o 31 de março em feriado nacional. Talvez assim possamos garantir que esse dia nunca seja encarado por nós e, principalmente, pelas gerações que virão como um grande Primeiro de Abril, como se o golpe de 1964 nunca tivesse existido.”
Estas concepções não possuem qualquer base na realidade. Se o governo pretendesse combater os militares com investimento na educação e fazendo do dia 1º de abril um feriado, não poderíamos esperar nada além de um novo golpe de Estado sendo realizado sem qualquer resistência.
Nem Lula, nem a esquerda de conjunto, poderá combater os verdadeiros golpistas e o imperialismo com meras ações institucionais. Tais medidas servem apenas para uma fachada e nada representam na luta contra a extrema-direita bolsonarista e a cúpula das Forças Armadas.
Se Lula não possuí base nas instituições, é necessário fazer dos trabalhadores que o elegeram sua verdadeira base, nas ruas. A política é um jogo de forças, Lula hoje não é derrubado, pois os militares ainda não veem as condições para tal, no entanto, com o desenvolvimento da crise no País nada impede a organização de um novo e verdadeiro golpe de Estado contra o governo do PT. As ilusões nas instituições repetem o mesmo erro cometido em 2016, no último golpe de Estado no Brasil.
Sakamoto ao falar que “punir com prisão o golpismo de Bolsonaro e seus amigos militares, mandando generais que cometeram crimes contra a democracia à cadeia, vai mostrar que algumas instituições aprendem sim com seus erros”, revela a total falta de realidade de sua política.
Estas mesmas instituições não só não “aprenderam” como foram as responsáveis pelo golpe de 2016, pela Lava Jato, pela prisão do Lula, pela eleição de Bolsonaro e por permitir que todo o boicote da direita contra o governo. Quando o governo de fato precisar delas, as “instituições democráticas” agiram como sempre agiram na história: contra os trabalhadores e a favor do imperialismo.
Neste jogo de forças quem perde hoje é Lula e os trabalhadores. Os motivos estão claros, a direita avança tanto no terreno institucional quanto nas ruas com a recente mobilização bolsonarista. O que hoje é uma política defensiva do bolsonarismo amanhã, com o terreno aberto, pode se tornar rapidamente uma ofensiva contra o governo.
Não será o investimento em aulas de história, algo que sequer é possível para saber o que significa, que irá combater os golpistas de hoje, mas sim, a mobilização popular.
A esquerda precisa se preocupar com algo fundamental, o seu papel não é ser juiz, nem professor de história, o papel das organizações de esquerda é fazer política, organizar e mobilizar o povo e combater politicamente o bolsonarismo e as Forças Armadas. É apenas no terreno da mobilização que Lula poderá ter sua força necessária para combater os militares.
Não haverá com esta política atual nenhuma crise para os militares, que saem cada vez mais fortalecidos na luta política contra o governo, como mesmo mostra o receio de Lula que decidiu não realizar nenhum evento no dia 31 de março para evitar problemas com as Forças Armadas. Isto mostra que a correlação de forças é desfavorável e que é hora de colocar o povo nas ruas antes que seja tarde.