“Estamos todos fracos, eu estou com febre, não consigo focar”

Hoje uma brasileira residente da Faixa de Gaza, Shahd al-Banna, de apenas 18 anos, concedeu uma entrevista à rede de imprensa russa Sputnik. Ela contou sobre o horror que acontece em Gaza no momento. E mostra que, na prática, os brasileiros em Gaza são mantidos como reféns durante o genocídio. Grande parte da entrevista pode ser lida abaixo:

“Não posso dizer que é seguro, pois não há nenhum lugar seguro em Gaza agora. Todos os dias há bombardeios que nunca param. Não sei muito sobre a operação terrestre, mas sei que amigas minhas não conseguiram sair do norte e agora não sei de nada sobre elas. Não há rede, cortaram a conexão, não consigo falar com elas. 

Sobre sair daqui falam que até quarta-feira conseguiremos sair, mas não sei. A fronteira fecha e abre de repente. Os brasileiros estão bem, mas as crianças estão doentes por causa dos bombardeios. E estou com o enjoo a maioria do tempo. Tenho muita saudade de beber água limpa, é muito ruim beber água salgada. Eu quero sair daqui, minha esperança era a guerra acabar, parar de ver pessoas inocentes morrendo.

Eles esperam as pessoas ficarem com sono para atacarem mais, aí ninguém consegue dormir. Quando as pessoas morrem de noite as ambulâncias não conseguem trabalhar. É terrível a noite. Você tem noção o que é 12 mil pessoas inocentes mortas? E há mais embaixo das casas destruídas. Estamos todos fracos, eu estou com febre, não consigo focar no que estou falando. É horrível o que eu estou passando, mas há gente passando por coisas muito piores. Choro o tempo todo só de pensar. As crianças estão ficando sem pais. Conheço um homem que 23 familiares morreram e faltou só ele, de toda a sua família. Outro homem disse que estava levando sua mulher ao hospital para ter filhos, eles tiveram gêmeos. Quando eles voltaram para casa ela estava bombardeada, 5 filhos morreram. Depois a sua esposa foi para outra casa que também foi bombardeada, os gêmeos recém nascidos morreram.

Eu odeio o som desse avião. (avião passa por cima da casa onde acontece a entrevista).”