Fonte: Diário Causa Operária
No dia primeiro de setembro ocorreu em todo território nacional as eleições para o Conselho Tutelar. Sendo visada por diversos setores políticos como uma forma de estabelecer um contato direto com a população por meio de um órgão público, agrupamentos da esquerda e sobretudo da direita se organizaram para participar das eleições.
O resultado confirmou um importante avanço de setores da extrema-direita, sobretudo ligados às Igrejas Evangélicas que crescem em todo Brasil. Após importantes resultados nas últimas eleições, setores ligados ao bolsonarismo passaram a se estabelecer também no terreno dos Conselhos Tutelares nacionalmente, assumindo a frente de contato com a população.
Diante desta questão, setores da esquerda pequeno-burguesa se confundem sobre as causas e as formas com que esta situação deveria ser lidada. O ex-deputado do Partido dos Trabalhadores no Rio de Janeiro e colunista do blog Brasil 247, Liszt Vieira afirmou que:
“A bancada evangélica tornou-se um ator político no Legislativo, ao lado da bancada da bala e do agronegócio. São agendas complementares, uma vez que o agronegócio e a indústria de armas não estão preocupados com uma pauta religiosa fundamentalista, já que os evangélicos apoiam seus projetos. Segundo o DataFolha, a proporção de evangélicos no Brasil está em torno de 30% da população brasileira. Atualmente, entre 18 e 20% dos parlamentares são evangélicos. Mas é importante não esquecer que eles, tradicionalmente, se dividem em relação ao Governo, mas se unem, com raríssimas exceções, na defesa de uma pauta conservadora em matéria de costumes.”
A colocação do Liszt é complementada pelos resultados práticos com que a política destes setores atinge a população. O colunista afirma:
“A eleição para o Conselho Tutelar não é uma avant première das eleições municipais ano que vem, mas traz indicações que não devem ser desprezadas. Na eleição de domingo 1/10 para os CTs, os candidatos evangélicos ou por ele apoiados tiveram votação expressiva. Ainda é cedo para avaliações confiáveis, com números e percentagens, mas é inegável o avanço evangélico na votação, principalmente nas periferias das grandes cidades. Os evangélicos usam o Conselho Tutelar como porta de entrada e caminho para a eleição de vereadores.”
Apesar de crer que as eleições não refletem uma realidade para as eleições municipais para o ano que vem, os motivos para o rápido crescimento da extrema-direita nos Conselhos Tutelares são visíveis: a falta de atuação da esquerda, e crescente organização de setores da extrema-direita, sobretudo organizados pela igreja no interior da população.
“Salvo casos isolados e de militantes que atuam nos Conselho Tutelares defendendo o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), os partidos de esquerda e as entidades da sociedade civil não organizaram lista de candidatos, nem orientaram os eleitores. A maioria não sabia onde votar, e se podia votar em apenas um ou em vários candidatos. Nem quanto tempo dura o mandato de um Conselheiro Tutelar, são quatro anos. Enquanto isso, os evangélicos avançam, penetrando até na Polícia, como é o caso da Universal nas Forças Policiais (UFP) e dos PMs de Cristo”, afirmou o ex-deputado.
O caso das eleições cos Conselhos Tutelares demonstra o fracasso da política da esquerda pequeno-burguesa diante da população. Muito mais preocupada com a política identitária, com a demagogia com setores da classe média e sem ter qualquer programa concreto destinado aos trabalhadores, a esquerda pequeno-burguesa perde cada vez mais espaço diante da população pobre, enquanto a extrema-direita busca se estruturar como uma suposta alternativa à situação.
A extrema-direita não possuí política de fato voltada aos trabalhadores, no entanto, o total vácuo político deixado pela esquerda permite o crescimento de setores bolsonaristas.