Logo no início de sua fala no Vale do Anhangabaú, onde ocorreu o ato do primeiro de maio de São Paulo, Lula criticou explicitamente os organizadores da manifestação, que cercaram o ato, dificultando muito a participação do povo:
“Eu estou fazendo essa caminhada porque é a primeira vez, em um milhão de atos públicos em que eu participo, que a impressão que a gente tem é que eu vou fazer uma entrevista coletiva, porque a imprensa está aqui na frente, e o povo está lá atrás. Eu acho que quem fez esse palanque aqui acha que está em dívida com a imprensa e decidiu agradar a imprensa demais e dar mais destaque às máquinas que aos companheiros que são a razão desse ato”.
A crítica é certeira. Sim, a culpa é dos organizadores, é que foram quem decidiu, à revelia do povo, aquele formato de ato. Houvesse qualquer consulta aos manifestantes, o “cercamento” jamais existiria. E sim, o povo ficou “lá atrás”, a uma grande distância do palco.
O problema, no entanto, vai além de se quem irá “ter destaque” é a imprensa – incluindo aí o Partido da Imprensa Golpista (PIG) -, grande propagandista do golpe de 2016 e da prisão de Lula – ou os trabalhadores, no Dia Internacional dos Trabalhadores. O fato é que essa política, que utiliza a “segurança” dos manifestantes e do próprio Lula como pretexto, foi a grande responsável para que o ato fosse um verdadeiro fiasco.
O “cercamento”, em primeiro lugar, dificulta o acesso da população ao ato, provocando filas enormes – visto a necessidade de se passar por uma entrada estreita – e ainda constrangendo o público de passar por uma revista policial. Muitos companheiros, ao saber que o ato terá esse formato, nem saem de casa. Outros, ao ver as dificuldades, dão meia-volta quando chegam ao Vale do Anhangabaú.
Não bastasse tudo isso, a política de “cercamento” é uma agressão às organizações do povo. Isso porque elas são impedidas de entrar com grande parte do material que é utilizado tradicionalmente em atos, como baterias e outros instrumentos.
Além do “puxão de orelha” dado por Lula, mostrando que nem mesmo a pessoa com a qual os organizadores estariam preocupados com a segurança tem acordo com essa política, o “cercamento” já deveria ter sido abolido há muito tempo dos atos de esquerda porque provou seu completo fracasso em 2022, quando os atos do primeiro turno da candidatura de Lula mostraram as mesmas dificuldades. Foi apenas no segundo turno, quando, orientados por Lula, os organizadores retiraram as “catracas”, que foi possível uma mobilizar popular capaz de derrotar a direita.