Na madrugada de terça-feira (24), militantes do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), em conjunto com mais de 80 famílias, ocuparam um prédio em Brasília, na W3 Norte e fundaram a Ocupação Leidiane. O imóvel, pertencente à União, já atuou como sede da Polícia Rodoviária Federal (PRF), mas estava abandonado há quase uma década até a entrada dos moradores da ocupação.
De acordo com o movimento, “As 80 famílias presentes na ocupação são trabalhadoras e trabalhadores de Brasília que são obrigados a morar em regiões distantes do local do trabalho. Vivendo em condições precárias, pagando aluguéis que dificultam sua sobrevivência ou vivendo de favor”.
Os militantes da organização popular e os moradores aguardam, agora, uma iniciativa por parte do Ministério das Cidades e da Secretaria do Patrimônio da União para destinar o prédio, oficialmente, a moradia popular. “A ocupação Leidiane significa a possibilidade da cidade de Brasília repensar seu papel e construir um processo de reforma urbana que preserve o patrimônio, mas que inclua seu povo, que constrói historicamente está cidade”, afirma o MNLM.
Em relação ao nome dado à ocupação, o movimento informou que se trata de uma militante importantíssima para o MNLM que lutou organizando o movimento sem teto em Brasília:
“Nascida 21/10/1986, sua primeira escola foi na 511 da Samambaia-DF, uma escola de lata. Aos 12 anos de idade mudou-se com sua família para o Acampamento PA Buriti das Gamelas à beira do Rio São Marco, Município de Cristalina-GO.
Em 2004 Leidiane passa a integrar a Coordenação Regional do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) no Distrito Federal. De lá em diante passou a dirigir diversas ocupações e projetos de conjuntos habitacionais junto as famílias sem-teto organizadas no MNLM, tornando-se referência no DF e nacionalmente na luta pela reforma urbana e moradia digna.
Leidiane faleceu em 30 de agosto 2022, após vários anos de luta para sobreviver, pois a mesma enfrentava há vários anos o tratamento contra o lúpus, que é uma doença degenerativa e que causa enorme debilidade nas condições físicas.
Passados um ano de sua partida física, seu legado permanece presente em nosso cotidiano e em nossas ações, na luta por dias melhores”, afirmou o MNLM.
A equipe do Diário Causa Operária (DCO) esteve presente na ocupação Leidiane e conversou com as famílias e os membros do MNLM que estão participando da importante iniciativa. Um dos dirigentes do MNLM afirmou que “A atividade da ocupação Leidiane, aqui em Brasília, no centro da cidade, é mais uma etapa da jornada nacional de luta pela moradia”, relembrando que, além de um ato em Pernambuco, estão ocorrendo ocupações em outros locais do País, como no Pará e em Tocantins.
“[Essas atividades] têm como objetivo levantar esse debate relacionado à questão do direito a cidade e a moradia. Afinal, os pobres são jogados para as periferias, para as margens da cidade, e não têm direito a morar no centro, aonde tem os equipamentos urbanos que são fundamentais para qualquer pessoa sobreviver, [onde é] próximo do trabalho, de escola, creche, do transporte público.
Em Brasília, que tem essa característica de ter uma arquitetura sofisticada, o objetivo também é justamente fazer um debate político acerca de a quem serve essa sofisticação da arquitetura brasiliense. Serve para a classe trabalhadora ou serve apenas para a classe média e os mais ricos?
Então estamos aqui em um imóvel da União para fazer esse debate da democratização dos imóveis da própria União e, principalmente, dos imóveis que estão mais bem localizados”, afirmou um dirigente do MNLM ao DCO.
Como destacou o dirigente, que preferiu não ser identificado por questões de segurança, a ocupação Leidiane está no coração da capital federal. Ao redor do prédio abandonado, dezenas de milhares de veículos e de pessoas transitam todos os dias, garantindo uma visibilidade importante para divulgar a ocupação.
Na única entrada do prédio que não está bloqueada por tábuas de madeira, as famílias da ocupação são “calorosamente” recebidas por carros e agentes da polícia militar que, segundo membros do MNLM, já chegou a ameaçar os moradores, que resistiram ao assédio.
Outro carro da PM brasiliense pode ser visto estacionado do outro lado da rua, na W3 Norte:
Dentro da ocupação, existe uma cozinha comunitária montada para que todos os moradores possam se alimentar:
No momento da publicação deste artigo, a ocupação já completou 24 horas, fazendo com que, caso as forças de repressão do Estado queiram desocupar o prédio, precisarão, antes, de uma ordem judicial. Como foi dito, os moradores e militantes do MNLM aguardam uma resposta do governo que definirá o seu futuro.
Aqueles que quiserem contribuir com a ocupação Leidiane podem entrar em contato com o companheiro Cristiano Schumacher por meio do telefone (51) 98033-5085. Várias atividades estão sendo planejadas para os próximos dias, tanto de fortalecimento da ocupação, por meio de campanha financeira e de reconstrução do local, quanto atividades políticas, como debates e palestras.
ATUALIZAÇÃO: após o fechamento deste artigo, a equipe do DCO foi informada em primeira mão que a ocupação fechou um acordo com a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) que determina que as famílias desocuparão o prédio e que lhes será passado um imóvel em área central de Brasília. O movimento, todavia, deixou claro que, caso o acordo não seja cumprido, eles voltarão a ocupar não só o prédio em questão, como também outros imóveis da capital federal.
Fonte: Diário Causa Operária (DCO)