Índios presos são obrigados a comer comida crua e passam frio

Eduardo Vasco, Dourados (MS)

Nove indígenas permanecem presos desde o dia 8 de abril, após realizarem a retomada Nova Iwu Vera, em Dourados (MS). Eles são acusados de esbulho possessório (invasão de propriedade alheia), dano ao patrimônio, lesão corporal e porte de arma de fogo.

Há índios guarani, caiouá e terena entre os presos. Um deles é o guarani Magno de Souza, que foi candidato ao governo do estado do Mato Grosso do Sul pelo Partido da Causa Operária (PCO) nas últimas eleições, em 2022.

Um décimo indígena foi solto quando ainda estava na delegacia. Júlio de Souza tem 77 anos. “Eu vim tomar um chimarrão com a minha gurizada e quando eu cheguei aqui, a polícia nos prendeu”, diz ao DCO. “Eu soube que os que permaneceram presos estão sofrendo muito com esse tempo frio, estão passando mal.”

Na madrugada desta sexta, a sensação térmica chegou a cerca de cinco graus em Dourados, com a frente fria que castiga a região.

“Eles estão sendo judiados”, continua. “Os índios sempre são judiados. Quem está fazendo isso com eles não gostaria de ser judiado. Ninguém quer ser judiado.”

Rosalina é esposa de Valdemar, um dos indígenas que foram presos. Ela diz que as acusações de porte de arma são falsas e que seu marido foi preso quando estava indo trabalhar. Conseguiu falar com ele por telefone na tarde da última quinta-feira (20).

“Ele disse que está sofrendo muito com o frio, não tem casaco para vestir e está descalço”, conta. O casal tem seis filhos, incluindo dois pequenos, um de quatro e um de dois anos. Valdemar é quem sustenta a família, que agora só consegue se sustentar com a assistência do governo. As crianças já estão sentindo falta do pai, diz ela.

A mesma denúncia é compartilhada por Sandra, esposa do Cacique Adelino, que também está preso na Penitenciária Estadual de Dourados. “Eles estão passando frio e com fome. Estão recebendo comida crua, arroz cru, feijão. Vocês comeriam comida crua? Eles não têm coberta e dormem no chão frio, sem colchão e sem nada.”

Os índios sentem-se humilhados, pois também tiveram suas cabeças raspadas quando chegaram ao presídio. O presídio exige que eles tenham calça preta, camiseta branca, sandálias, cobertor e colchão, mas não os fornece. Portanto, as famílias estão buscando doações, porque os indígenas não têm nada disso.

Neste sábado (22), os índios da retomada Iwu Vera realizarão uma manifestação exigindo a liberdade de seus companheiros. O PCO enviou um ofício ao governo federal, particularmente à ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e ao ministro dos Direitos Humanos, Silvio de Almeida, para que façam alguma coisa em socorro aos nove indígenas presos em Dourados.

Fonte: Diário Causa Operária (DCO)