O comissário da ONU que visitou Gaza expressou a preocupação de que os habitantes da região estejam desenvolvendo a percepção de que suas vidas “não têm a mesma importância que as vidas de outros” e que eles sentem que “os direitos humanos e o direito humanitário internacional não se aplicam a eles”. Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência de Assistência e Obras das Nações Unidas (UNRWA), retornou no dia 14 de dezembro da província de Rafá, descrevendo a situação da população na Faixa de Gaza como “desesperada, faminta e aterrorizada”.
Ao relatar sua experiência em Rafá, Lazzarini testemunhou pessoas recorrendo a medidas extremas para obter comida, destacando que a população começou a se servir diretamente de caminhões, em um gesto de desespero, comendo o que pegavam no local. Ele enfatizou que isso não está relacionado ao desvio de ajuda, conforme esclarecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Rafá, situada perto da fronteira egípcia, tornou-se o “epicentro do deslocamento”, com mais de um milhão de pessoas buscando abrigo na região, resultando em instalações da UNRWA extremamente superlotadas. Lazzarini ressaltou que dezenas de milhares de pessoas não têm para onde ir e que aqueles abrigados nas instalações são considerados “sortudos”, especialmente diante das condições climáticas adversas do inverno. Aqueles que estão do lado de fora são forçados a viver ao ar livre, “na lama e na chuva”, observou o comissário.
Lazzarini expressou sua consternação com o crescente nível de desumanização na região, pedindo uma reflexão sobre valores compartilhados. Ele denunciou a campanha difamatória contra os palestinos e aqueles que lhes prestam ajuda, instando os meios de comunicação a ajudarem a combater desinformações e imprecisões, enfatizando a importância da verificação de fatos.
Apesar do número alarmante de mortes em Gaza, chegando a aproximadamente 19 mil, conforme relatado pelo Ministério da Saúde local, e do apelo por um cessar-fogo da Assembleia Geral da ONU, Israel anunciou sua intenção de continuar a campanha, alegando que ela pode “durar meses”.