No Guarujá, litoral de São Paulo, a polícia de Tarcísio foi protagonista de mais um “caso isolado”, assassinando Aparecido, um trabalhador ambulante, em circunstâncias ainda nebulosas. Aparecido foi abordado por policiais um dia antes de sua morte, enquanto conversava com colegas próximo à praia após o término de seu turno de trabalho com o carrinho de comidas e bebidas.
Segundo relatos obtidos por meio de uma gravação compartilhada com seus familiares, Aparecido descreveu os policiais como “perigosos” e os comparou à Rota, uma tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo e personagens principais de uma quantidade incontável de chacinas e homicídios. Apesar de cooperar e ter seus documentos verificados, Aparecido foi alvo de ameaças por parte dos policiais durante a abordagem.
No dia seguinte à abordagem, Aparecido foi morto em uma operação realizada pelo 5º Baep (Batalhão de Ações Especiais) em Barueri, na Grande São Paulo. Os policiais afirmaram ter recebido uma denúncia anônima sobre uma residência suspeita na Vila Santa Rosa, entre o Guarujá e Santos, onde supostamente havia drogas e armas.
Durante a operação, os policiais alegaram que Aparecido estava armado e representava uma ameaça quando foi encontrado em sua casa. No entanto, todas as câmeras corporais dos policiais envolvidos estavam desligadas, levantando questionamentos sobre a transparência e a conduta dos agentes durante a ação.
A morte de Aparecido gerou indignação e levantou preocupações sobre o uso da força policial e a falta de prestação de contas. Comunidades locais clamam por uma investigação rigorosa e imparcial para esclarecer os eventos que levaram à morte do trabalhador ambulante e garantir justiça para sua família e para a comunidade. Confira trechos da conversa:
Aparecido: É com o senhor mesmo. O que o senhor fizer comigo, o senhor vai responder. Eu não devo nada, não.
PM: Cadê as motos? O que você tem no seu nome aí?
Aparecido: Não tenho moto, não, senhor. A moto que eu tinha eu vendi.
PM: E aí, tem droga, tem arma?
Aparecido: Não tem nada, nem gás tenho aqui.
PM: Faz parte da organização?
Aparecido: Não tenho envolvimento com ninguém, não. Ando sozinho. O que aconteceu, passou, passou, agora é outra vida, senhor. Agora minha vida é trabalho e cuidar da minha vida.
O Diário Causa Operária (DCO) entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado de São Paulo pedindo esclarecimentos acerca da denúncia. A pasta encaminhou a seguinte resposta:
“As denúncias citadas pela reportagem foram anexadas aos respectivos inquéritos sobre o caso, conduzidos pelas Civil e Militar, com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário. O áudio citado será encaminhado à perícia para a análise do seu conteúdo e integridade. A Corregedoria da Polícia Militar acompanha o andamento dos inquéritos e está à disposição para formalizar e apurar eventuais denúncias contra seus agentes. A instituição conta com rígidos protocolos operacionais e não compactua com excessos, indisciplina ou desvios de conduta.”