“O que está acontecendo na Palestina é inacreditável. Esses massacres contra crianças, a migração forçada daqueles que saíram de suas casas, e tiveram as suas casas demolidas, levadas ao chão”. A declaração, feita por uma palestina hoje radicada no Brasil, foi apenas uma das várias denúncias do genocídio sionista que ocorre na Faixa de Gaza feitas durante a caminhada contra o assassinato das crianças palestinas.
Convocada pelo Partido da Causa Operária e pelos Comitês de Luta, a caminhada começou às 9h do último domingo, dia 17 de dezembro, quando começaram a chegar os primeiros manifestantes na Praça Oswaldo Cruz, em São Paulo. Localizada no início da Avenida Paulista, no espaço já ocorreram dois atos públicos em solidariedade à população de Gaza.
Contando com faixas diversas, a caminhada expressou toda uma tendência de luta dos brasileiros em favor da causa palestina. “Sionistas assassinos de crianças”, dizia uma das faixas. “Fim do Estado de Israel”, dizia outra. O cenário ainda era complementado com bandeiras do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), da Jiade Islâmica, da Frente Popular para a Libertação da Palestina, da Frente Democrática para a Libertação da Palestina – todas elas organizações de luta do povo palestino. Também estavam presentes bandeiras do Hesbolá, partido libanês que está lutando de ombros a ombros com seus irmãos na Faixa de Gaza.
O apoio aos grupos de resistência no Oriente Médio também pôde ser visto nos gritos de guerra entoados pelos integrantes da Bateria Zumbi dos Palmares, que começaram cedo a aquecer para a caminhada:
“Em 79 foi o Irã, em 2000 o Hesbolá, em 21 o Talibã, agora é a hora do Hamas”.
Esta não foi a primeira grande atividade em apoio ao povo palestino em São Paulo, nem tampouco a primeira em que apareceram as bandeiras da resistência árabe. Já foram realizados, afinal, oito atos públicos em São Paulo, bem como dezenas de manifestações em outras cidades brasileiras, como Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife. A importância da caminhada, no entanto, está no fato de que esta foi a primeira atividade de grande porte realizada desde o ato do dia 3 de dezembro. A caminhada, portanto, foi uma resposta à tendência expressa por setores do movimento que são contrários à manutenção dos atos de rua.
Conforme explicado por João Jorge Caproni Pimenta, a caminhada teve “uma importância política muito grande” porque “temos visto uma paralisia da esquerda em relação à realização de novos atos”. As mesmas organizações que tiveram a iniciativa de convocar o ato de 4 de novembro em São Paulo, que foi a maior manifestação em apoio a Palestina do Brasil até o momento, não tomaram qualquer iniciativa nas últimas semanas para que ocorressem novas manifestações. Com a iminente chegada das festas de fim de ano, é provável que tais organizações só estejam dispostas a sair às ruas no ano que vem.
Acontece que até o dia primeiro de janeiro, já terão passado duas semanas. O Estado de “Israel” tem matado uma média de 110 crianças por dia – serão, portanto, mais de 1,7 mil crianças mortas até o fim do “recesso” tácito decidido por tais organizações. Destaque-se, ainda, que não há uma previsão de retomar os atos de rua no dia primeiro de janeiro – para que aconteça uma manifestação de verdade, é preciso definir uma data com antecedência, divulgá-la, convocar a população, etc.
Não realizar manifestações nesse momento é cruzar os braços em um dos momentos mais dramáticos do genocídio sionista. “Nessa semana, o número de pessoas mortas na Faixa de Gaza ultrapassa 20 mil”, destacou o dirigente Antônio Carlos Silva, do PCO. “Dessas 20 mil pessoas assassinadas pelo exército sionista de ‘Israel’, mais de 8 mil crianças e cerca de 5 mil mulheres são assinadas. É um dos maiores crimes da atualidade, levado adiante com o apoio do imperialismo norte-americano e dos países ricos, contra os povos oprimidos. Não só contra o povo palestino, mas contra o conjunto do povo árabe e também nosso País e a América Latina”.
E é justamente devido à paralisia estabelecida no interior da esquerda e do movimento de solidariedade ao povo palestino que a caminhada foi importante. Ela demonstrou que é possível mobilizar, é possível sair às ruas. As festas de fim de ano não podem ser pretexto para que o povo brasileiro não reaja ao genocídio: há um interesse genuíno da população em repudiar o que o Estado de “Israel” está fazendo na Faixa de Gaza neste momento.
Com a caminhada, foi apontado o caminho para que a luta do povo palestino se desenvolva no Brasil. Agora, é hora de arregaçar as mangas, convocar reuniões dos comitês de luta, panfletar, colar muito cartaz e organizar atos cada vez maiores até que “Israel” pare de bombardear a Faixa de Gaza.