A exploração do sal-gema em Maceió começou em 1970, em plena ditadura, pela Salgema Indústrias Químicas S/A que depois, em 1976, foi adquirida pela Braskem que é a responsável pelas minas na atualidade.
O principal bairro afetado, Mutange, é muito antigo, ou seja, existia bem antes do início da operação da mina em 1970, abrigava importantes órgãos para o município e o Estádio Gustavo Paiva, conhecido como Estádio do Mutange, construído na década de 1920, onde o CSA (Centro Sportivo Alagoano) realizava seus jogos, e posteriormente, se tornou o CT (Centro de Treinamento) do time.
A ditadura militar e seus governos sucessores, ditos democráticos, não se preocuparam com a vida da população, nem por acaso, pois bastava um estudo geológico, já disponível na época, para detectar a presença das cavernas e o impacto no solo e nas construções que lá existiam, e mesmo anos mais tarde, novos estudos poderiam ter sido feitos antes de a tragédia acontecer, considerando a presença de uma atividade extrativista dentro de uma área densamente habitada.
Em 2018 o solo no bairro Mutange começou a afundar, e logo em seguida outros bairros próximos começaram a ser afetados, o que provocou de imediato a interdição de milhares de imóveis e a expulsão dos moradores de suas casas.
A Braskem, dona das minas, recusou-se a reconhecer a responsabilidade, atribuindo o fato a outros fatores, até que estudos técnicos realizados no local comprovaram que a extração do sal-gema abalou a estrutura das cavernas existentes no subsolo da região.
Independentemente dos motivos, fato é que a extração mineral jamais poderia acontecer em área urbana, e chama atenção a falta de ação da prefeitura e do estado de Alagoas em permitir tal absurdo. E o que já era ruim ficou muito pior quando outros bairros começaram a ser afetados pelos tremores de terra, trincas nas paredes e afundamentos no solo que comprometeram totalmente a estrutura de casas, apartamentos e imóveis comerciais.
Além do Mutange, os bairros de Pinheiro, Bebedouro, Farol e Bom Parto foram interditados e ao todo 14.000 mil imóveis e 60 mil pessoas foram afetadas.
Os moradores relataram ainda o descaso por parte da Braskem, da prefeitura e do estado.
Os moradores, além de terem perdido suas casas, onde residiam há décadas, foram obrigadas a entrar na justiça para garantir seus direitos. Os processos demoram anos, obrigando os moradores a se virar com ajuda de parentes e da caridade das pessoas, a maioria são das famílias são pobres e a vida já não era fácil para elas.