Em nota publicada no seu portal na quinta-feira (28), o Instituto Brasil-Palestina, Ibraspal, criticou o SESC por fazer uma parceria com o Instituto Brasil Israel para divulgar filmes israelenses.
A nota, intitulada Carta Aberta contra a Mostra de Filmes Sionistas promovida pelo Sesc na página ‘Cinema em Casa com o SESC’, em parceria com o IBI (Instituto Brasil-Israel) é assinada por diversas organizações.
Dentre elas, a Rede Samidoun pela Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos; Núcleo Palestina PT; Monitor do Oriente Médio – MEMO; Mostra de Cinema Árabe Feminino; BRICS Writers Association; Ecos da Palestina; SEEMG; Coletivo TOCA (Teatro Ocupação Cultura Arte); Partisane Filmes; Casa na Árvore produções.
Segue a carta na íntegra:
Carta Aberta contra a Mostra de Filmes Sionistas promovida pelo Sesc na página “Cinema em Casa com o SESC”, em parceria com o IBI (Instituto Brasil-Israel)
Em meio ao genocídio do povo palestino observamos estarrecidos que o SESC, ignorando a dor de toda população árabe-palestina diante das imagens diárias de mortos e feridos, tomou a iniciativa de promover uma mostra de filmes Israelenses, ofendendo o bom senso e contrariando princípios éticos básicos. Perguntamos para os dirigentes do SESC, responsáveis por esta mostra: é hora de celebrar o que? É esta a resposta que o SESC tem a dar ao genocídio do povo palestino?
A escolha de realizar uma mostra que celebra o Estado de Israel, no momento em que se completa um ano de um genocídio que vitima preferencialmente a população civil, na figura de crianças e mulheres, é indefensável. A parceria com um think tank sionista como o Instituto Brasil-Israel, que neste momento se dedica a relativizar o genocídio para melhorar a imagem dos que o praticam, degrada a imagem do SESC e coloca em xeque os princípios que esta instituição afirma seguir.
É triste ter que lembrar aos dirigentes do SESC o óbvio: se trata de um genocídio perpetrado por Israel na Faixa de Gaza, seguido por operações militares na Cisjordânia e a formação de novos assentamentos ilegais, seguidos por agressões ao povo libanês e seu território. Ações que trouxeram mais de 111.000 feridos, mais de 46.000 assassinados e pelo menos 15.000 reféns palestinos presos e torturados. Centenas de funcionários da ONU e jornalistas foram mortos. Mais de 20 mil crianças aniquiladas em um ano. Dentre os mortos estão inúmeros irmãos brasileiros. Entre eles Islam Hamed, um refém brasileiro-palestino sequestrado por Israel e Fátima Bassam Abbas, uma bebê brasileira de 14 meses assassinada no Líbano.
O SESC, que tem entre seus objetivos e valores a promoção do bem-estar e a promoção da diversidade, não pode ser utilizado como espaço de propaganda política para um Estado colonial genocida. Tão pouco pode celebrar a biografia de David Ben Gurion, o arquiteto da Nakba ou a “grande catástrofe”, expressão usada pelos nativos palestinos para o início do projeto colonial que deu origem ao Estado de Israel.
Sejamos claros: Bem Gurion foi um supremacista, responsável por uma catástrofe humanitária e por uma limpeza étnica. Um homem cínico que jamais buscou a paz no território palestino, mas sim a expulsão de sua população nativa: “Devemos fazer todo o possível para garantir que os árabes nunca retornem” escreveu ele a seu filho. Esta frase resume sua postura diante dos palestinos e a posição dos dirigentes de Israel nos últimos 75 anos diante da população originária daquele país.
É inadmissível, neste momento de dor e espanto diante do genocídio cruel da população de Gaza, que o SESC se disponha a celebrar esta figura histórica espúria,
que não apenas negligenciou os direitos dos palestinos, mas também defendeu, de forma explícita, a exclusão e o deslocamento forçado da população árabe. Trata-se de alguém que foi responsável direto pela expulsão de centenas de milhares de palestinos de seus lares e pelo roubo de seus pertences, utilizando para seu intento táticas de terror como assassinatos em massa, estupros, guerra biológica e crimes de toda espécie. Estas e outras tantas violações foram cuidadosamente descritas pelo historiador israelense Ilan Pappé em seu livro “A limpeza étnica da palestina”, escrito a partir de documentos oficiais de dirigentes e militares israelenses.
Essa Mostra não só é uma violenta e sádica agressão aos árabes em geral, especialmente à comunidade palestina/libanesa brasileira, mas é uma agressão a todos os cidadãos e cidadãs que se colocam contrários ao genocídio que continua a acontecer neste momento em Gaza. Incluímos aqui toda a população judaica que se opõem às práticas coloniais sionistas. É um atentado contra qualquer valor de convivência, moralidade, igualdade social e independência em relação às pressões de lobbies criminosos que buscam dispersar a atenção de crimes contra a humanidade.
Esperamos que os responsáveis por esta atividade se retratem publicamente e abram espaço para ações que busquem o fim de Estados coloniais e genocidas e promovam a igualdade e convivência entre povos diversos. Não sejamos cínicos: não se trata só do genocídio, mas de 75 anos que o povo palestino vive disperso pelo mundo, vivendo em grande parte em campos de refugiados, ou submetidos ao apartheid cruel promovido pelo sionismo em seu território original, sem direitos básicos de cidadania e sobrevivendo em condições desumanas.