Caso não recebam a reposição da inflação de 4,06%, mais ao menos 2% de aumento real nos salários, os metalúrgicos de Sorocaba e região irão se mobilizar pela greve. Além disso, exigem a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e ampliação das cláusulas sociais. Foi o que decidiram durante a assembleia geral que aconteceu na noite desta sexta-feira, 06, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal).
O encontro foi chamado com urgência logo no início da semana, após uma reunião extraordinária, na terça-feira, 3, entre a Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM/CUT-SP) e os 13 sindicatos filiados.
Essa movimentação precisou ser realizada porque a sinalização das bancadas patronais, após dezenas de reuniões para chegar a um consenso, foi de que o reajuste proposto por eles seria de, apenas, a reposição do percentual de 4,06%, referente à inflação do período. Em alguns grupos, patrões sugeriram menos do que a inflação de reajuste salarial e, em outros, até 5% de reajuste. O que, em todos os sentidos, foi reprovado pelos sindicalistas em mesa e reafirmado em assembleia pelos trabalhadores.
Durante a assembleia, os representantes sindicais comunicaram sobre o status das negociações em cada um dos grupos patronais, além de recordarem os primeiros passos da Campanha, como a entrega das pautas de reivindicação em julho. Além da aprovação da pauta pelos metalúrgicos de Sorocaba em julho.
De acordo com Max Pinho, secretário-geral da Federação, durante as reuniões com o patronal houve sinalizações de que as bancadas acatariam algumas das reivindicações presentes nas pautas entregues aos patrões. No entanto, nada mais foi feito.
“Grupos sinalizaram que estavam abertos para o debate da redução de jornada, mas não de para colocar isso na Convenção, por exemplo. Não dá para sobrevivermos só de sinais, precisamos de respostas concretas e até o momento o que temos não contempla nossas reivindicações. Portanto, é hora de tomarmos atitudes”, disse Max durante a assembleia.
Diante dessa tendência anunciada, os sindicalistas se movimentaram para construir um cenário de mobilização, força e união já que, na visão deles, a proposta atual dos patrões representa “descaso à pauta aprovada pela categoria”, como disse Leandro Soares, presidente do SMetal.
Outro momento, novas estratégias
Silvio Ferreira, secretário-geral do SMetal, recordou que nas negociações realizadas nos últimos anos, durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, os últimos reajustes foram caracterizados por arredondamentos, mas, agora, existe um outro paradigma. Para ele, há controle inflacionário, para além da percepção dos próprios trabalhadores de que é hora de ir atrás daquilo que foi perdido nos últimos anos.
“No passado tivemos que enfrentar a Reforma Trabalhista, o golpismo, situações que enfraqueceram a valorização do salário e da força dos trabalhadores, por isso tivemos que aceitar arredondamentos. Agora, com o controle de inflação que é uma prática dos governos petistas, temos outra perspectiva de cobrança”, afirmou Ferreira.
Ele também lembra que, regionalmente, há problemas sistêmicos. Nesta semana, o SMetal recebeu denúncias anônimas de demissão de centenas de trabalhadores na Flextronics. Enquanto isso, o prefeito Rodrigo Manga divulga publicações em suas redes sociais afirmando que a fábrica irá contratar mais de 100 novos trabalhadores, a empresa demite centenas de trabalhadores sem dialogar com o Sindicato.
Neste ano, o tema escolhido para a Campanha Salarial foi “A Luta Continua Pela Reconstrução dos Direitos, dos Salários e da Democracia”. Para Silvio, este lema é, justamente, o que almejam os metalúrgicos. “Estamos em um processo de reconstruir tudo aquilo que sempre foi nosso e nos foi retirado na ‘mão grande’”, disse.
Reajuste ou greve!
A movimentação por greve já começa a ser vista em empresas de Sorocaba. Na Tamboré, após dois protestos, os metalúrgicos decidiram cruzar os braços por uma proposta de reajuste salarial que estivesse de acordo com o que almejavam. O resultado: após dois dias de greve, a empresa voltou atrás e apresentou um novo acordo, melhorando a proposta anterior e atendendo às reivindicações dos trabalhadores.
Joaquim da Silva Neto (Joca), trabalha há 14 anos na empresa. Ele foi um dos trabalhadores que marcaram presença na assembleia presencial de hoje. Joca enfatizou a importância da união na hora de conquistar. “Faz sete anos que eu me aposentei, mas a luta não é só minha. Eu vejo a falta de dignidade, a insatisfação e a desvalorização. Você [trabalhador] é muito importante. Uma formiguinha sozinha não faz nada, mais várias têm força”, disse durante sua intervenção na assembleia.
Ele completou dizendo: “Compramos uma briga por direitos e essa nós ganhamos. Essa vitória não é só na Tamboré, é do Sindicato, é dos trabalhadores”.
Para Leandro Soares, o movimento na Tamboré é símbolo de resistência. “Assim como o exemplo que tivemos hoje na Tamboré, temos referência de resistência e luta. O compromisso deste Sindicato é na defesa dos direitos dessa categoria. Vamos fazer uma Campanha Salarial que faça reconhecer toda luta que travamos nos últimos sete anos”.
Para Franciele Machado, trabalhadora da Apex Tool, a sensação que ficou após a assembleia foi de representatividade. “A gente vem de um desgoverno em que ficamos quase quatro anos paralisados, agora retomamos a produção, toda a economia, por que então o trabalhador não ser recompensado? Sem nós a empresa não funciona”, disse.
Fonte: CUT