A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) vem batendo recordes sucessivos de lucratividade nos últimos anos. Na contramão da crescente lucratividade, o número de trabalhadores do quadro próprio só diminui. O resultado é uma grande sobrecarga de trabalho, mais pressão por produtividade e a adoção do assédio como ferramenta de gestão.
Apesar de obter lucros cada vez maiores, esse “bolo” construído com muito trabalho da categoria é dividido de forma completamente desigual e injusta. Enquanto a produtividade e o lucro aumentam, os rendimentos da força de trabalho diminuem. Essa realidade reforça a relevância da nossa luta por vida, dignidade e trabalho.
Portanto, os principais pontos abordados na campanha do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2023/24 do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG), são a luta pela preservação da vida e saúde do trabalhador e da trabalhadora, a luta pela conservação da Cemig como patrimônio do povo mineiro e a manutenção das conquistas da categoria eletricitária.
É inegável que os itens econômicos e a recuperação das perdas impostas à categoria nas últimas negociações com a gestão do governador Romeu Zema (Novo), na Cemig são parte dessa disputa. O Sindieletro-MG sempre apontou a incoerência entre o discurso de escassez e os ganhos reais da empresa ao longo dos anos – argumentação criada pela gestão para retirar direitos dos eletricitários e eletricitárias. As demandas econômicas que vieram da categoria representam reparação pelas perdas e são solicitações justas para que o lucro da empresa seja dividido igualmente entre os que se sacrificam pela empresa, e não somente aos amigos do rei.
Números não mentem: tem dinheiro, o que não há é equidade
Segundo relatório elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base nas demonstrações financeiras da Cemig dos últimos cinco anos, é possível avançarmos em diversos aspectos econômicos da nossa pauta.
Embora tenham apresentado pequena queda no primeiro ano da pandemia (2020), as vendas de energia da Cemig chegaram a quase 45 mil GWh em 2022, o maior montante desde 2018. Em 2022 também foi o pico de atendimento em cinco anos: 9 milhões de unidades consumidoras. A Receita Operacional Líquida também alcançou o maior valor da série em 2022, chegando a R$34,5 bilhões. Em cinco anos, somou R$ 141 bilhões de reais.
O LAJIDA, importante indicador que está relacionado à geração de caixa da Companhia, chegou a quase R$7 bilhões em 2022. Em 2021, o valor foi maior devido a um aumento intangível, calculado em R$1 bilhão, referente à extensão do prazo de outorga de um conjunto de usinas incluídas no acordo de repactuação do risco hidrológico com a União (Lei 14.052/20). Sem contar com esse valor extraordinário, observa-se no gráfico uma trajetória de crescimento do LAJIDA nos últimos 5 anos.
Dividendos para acionistas e realidade do quadro próprio
Nos últimos anos, cerca de 50% do lucro líquido foi distribuído para acionistas na forma de dividendos e juros sobre o capital próprio. No último ano, os acionistas receberam R$2,2 bilhões; nos últimos 5 anos, foram distribuídos R$7,3 bilhões.
O Estado de Minas Gerais possui 50,97% das ações com direito a voto da Companhia, que são as ações ordinárias. Na soma das ações ordinárias e preferenciais, que dão direito aos dividendos e juros sobre o capital próprio, a participação do Estado é de 17,04% do total. Com esta participação, o Estado recebeu, nos últimos 5 anos, R$1,2 bilhão da Cemig.
Já o lucro líquido da Cemig apresenta trajetória crescente e atingiu R$4,1 bilhões em 2022. Nos últimos 5 anos, a empresa lucrou R$15,6 bilhões. E o quadro próprio? Será que a Cemig, com esses números, é capaz de dar o merecido quinhão à categoria eletricitária? Com todo esse lucro, a empresa ainda precisa quebrar contratos e dar calote nos aposentados, utilizando-se da falácia do pós-emprego?
Segundo o demonstrativo, os números do quadro próprio são continuamente decrescentes. Em 2018, eram 6.083. Em 2022, o quadro próprio da empresa contava com 4.969 trabalhadores. Não é necessário realizar muitos cálculos para entender que a empresa tem realizado mais com cada vez menos, e o resultado para os trabalhadores e trabalhadoras são mortes e adoecimentos em taxas recordes. Já para os acionistas é oferecida a lucratividade crescente, resultando em uma divisão desproporcional e injusta.
Mais lucro e menos funcionários: é possível concluir que há um reflexo direto de sobrecarga de trabalho. Portanto, a abertura de novas vagas deve ser pauta prioritária, especialmente para trabalhadores e trabalhadoras de campo. Tal necessidade está explícita nas demandas apresentadas pela categoria nas setoriais de construção da nossa pauta de reivindicações.
A sobrecarga de trabalho interfere na saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras, resultando em adoecimentos, acidentes e mortes. O compromisso do Sindieletro é lutar junto à categoria eletricitária em defesa de nossos interesses, e a nossa pauta é a tradução deste acordo. As demandas apresentadas pela categoria e presentes em nossa pauta de reivindicações reforçam a necessidade de construirmos conjuntamente medidas efetivas para assegurarmos um ambiente de trabalho saudável que garanta a proteção à vida, dignidade e trabalho.
Fonte: CUT