O trabalhador sem-terra Josimar da Silva Pereira foi brutalmente assassinado no município de Vitória de Santo Antão, Pernambuco. Josimar morava no Acampamento Francisco de Assis, localizado no Engenho São Francisco, onde está o acampamento há 29 anos, uma das ocupações mais antigas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no estado de Pernambuco.
O assassinato ocorreu quando o sem-terra se deslocava às 4h30 da manhã do último domingo (5/11) em direção ao acampamento para o plantio de arroz existente na área e foi covardemente atingido pelas costas com tiros na nuca.
Segundo informações do próprio MST, o acampamento existe há quase três décadas e passa por episódios de violência constantemente, incluindo pessoas que já foram ameaçadas de morte pelos latifundiários e que hoje se encontram no Programa Estadual de Proteção e Defesa de Defensores dos Direitos Humanos.
O assassinato pode ter sido em retaliação a um incêndio suspeito em uma área de plantio de cana-de-açúcar próximo ao acampamento no sábado. As lideranças do MST tentaram registrar um boletim de ocorrência para denunciar a situação, mas os policiais se recusaram a aceitar.
Um acirramento da violência no campo
Nos últimos dias, o latifúndio, juntamente com a polícia militar e o Judiciário, intensificaram os ataques contra as ocupações de latifúndio, principalmente contra o MST.
No dia 7 de novembro, o Acampamento Santa Maria, em Teotônio Vilela (AL), sofreu uma tentativa arbitrária de despejo com um enorme aparato da polícia militar utilizando dezenas de viaturas e helicóptero. A tentativa de despejo foi tão absurda que ocorre sem nenhuma notificação para as famílias, a pedido da massa falida do grupo João Lira. O acampamento Santa Maria existe há mais de 8 anos.
Na madrugada desse sábado (4), pistoleiros invadiram o acampamento Rosimeire Araújo, no município de Piritiba/BA, onde mais de 50 famílias estão acampadas, mulheres, crianças e homens. Os pistoleiros agrediram pessoas e atearam fogo nos barracos das famílias e fizeram diversas ameaças.
No final do mês passado, em União dos Palmares/AL, a polícia militar atacou de forma arbitrária e violenta as famílias do Acampamento Che Guevara, organizado pelo MST, nas terras da massa falida do latifúndio da Usina Laginha. A ação da PM foi um dia depois que pistoleiros invadiram o acampamento e tentaram expulsar as famílias e não conseguiram.
Em Santa Catarina, a direita latifundiária foi ainda mais longe. Seis militantes do MST foram presos em um despejo violento realizado pela Polícia Militar no município de Canoinhas. Famílias com crianças e mulheres e homens foram despejadas pela força policial por reivindicarem terra pública (da União), deixando a situação ainda mais absurda. No dia 21 de outubro, cerca de 120 famílias ocuparam 600 hectares pertencente à União, localizada na entrada de acesso a Valinhos em Canoinhas.
Também em outubro (20), trabalhadores sem-terra da região de Guarapuava, no estado do Paraná, sofreram um ataque violento por uma operação criminosa envolvendo cerca de 100 policiais militares no assentamento Nova Geração. 11 camponeses foram levados para a delegacia da cidade, apesar de haver formalmente apenas dois mandados de prisão e busca e apreensão.
No Mato Grosso, trabalhadores sem-terra sofreram ação truculenta da polícia no Acampamento Renascer, em Jaciara/MT, no dia 10 de outubro, quando policiais da Patrulha Rural da PM de Mato Grosso, acompanhados de grileiros ligados à Usina Porto Seguro e Pantanal/Grupo Naoum, realizaram ação sem ordem judicial, derrubando e destruindo cercas de um morador que ocupa a área há mais de 10 anos. Foram tiros de balas de borracha pelas costas dos trabalhadores, além de agressões com chutes e socos, deixando cerca de dez pessoas feridas e duas detidas.
Organizar para se defender
Apesar da derrota de Jair Bolsonaro, a direita e os latifundiários continuam sua ofensiva violenta contra a luta pela terra. A votação do Marco Temporal, a ofensiva da justiça e o aumento da violência do Estado e dos pistoleiros são sinais claros dessa situação.
Claramente há um aumento da violência, em particular da realizada pelo Estado, contra os movimentos de luta pela terra, e essa situação não se muda de maneira institucional. Para barrar essa violência, é preciso organizar a autodefesa dos trabalhadores do campo e das comunidades tradicionais.
A única maneira é garantir que os movimentos de luta pela terra tenham as condições de se defender e deixar claro para os latifundiários que os trabalhadores não estão à mercê desses ataques.
Fonte: Diário Causa Operária (DCO)