Nesta semana, após o fim do cessar-fogo, foram retomados com força total os bombardeiros israelenses da Faixa de Gaza. Em todas as frentes, a destruição é expressiva. Este Diário apresentará colocações de membros de organizações do próprio imperialismo para descrever a situação em Gaza, tal como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). As palavras deles, portanto, não vêm de apoiadores da ação do Hamas ou de defensores do fim do Estado de Israel. Um breve parêntese a seguir, e então chegamos ao grosso da questão.
Fim dos esportes
O Comitê Olímpico Palestino confirmou que ao menos 47 palestinos foram mortos por Israel, de diferentes equipes e esportes individuais. Yasmine Sharaf, praticante de caratê, de seis anos, estava entre os mortos, e buscava representar a Palestina em competições internacionais. Além disso, 17 técnicos e administradores foram vitimados. Outros cinco atletas e empregados relacionados aos esportes foram presos pela forças israelenses e feridos, segundo o comitê.
As consequências de tais atos nas associações desportivas não existiram, em contraste ao ocorrido com a Rússia quando do início da operação militar especial na Ucrânia. A UEFA e a FIFA não suspenderam clubes e equipes nacionais israelenses de suas competições, e não emitiram declaração condenando ou sancionando Israel, como feito com a Rússia, uma demonstração clara do controle imperialista e sionista sobre as entidades.
O impacto na juventude e em toda a sociedade palestina da privação do esporte é algo que fica inócuo frente ao genocídio em curso, mas se soma a ele como mais uma forma de martirizar a população já esmagada na Palestina. Um ataque cultural.
Ataques a jornalistas
A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) afirmou que, até agora, 68 jornalistas foram assassinados desde o início da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, no dia 7 de outubro. Destes, 61 palestinos e três libaneses.
De acordo com a federação, em comunicado: “A guerra em Gaza foi a mais mortífera para jornalistas que qualquer conflito singular desde que a FIJ começou a registrar os jornalistas mortos em serviço em 1990”. “Neste ano, 72% dos jornalistas mortos em todo o mundo foram mortos no conflito em Gaza”, “foi o pior mês na história do jornalismo internacional”, complementa a declaração.
Para efeito de comparação, a Federação Internacional de Jornalistas relatou que três jornalistas morreram em cada uma das guerras em curso na Ucrânia e na Síria este ano.
Além dos mortos, a FIJ listou 32 jornalistas e trabalhadores de imprensa presos por Israel na Cisjordânia. E disse, ainda em 20 de novembro, que 62 escritórios de veículos de imprensa foram destruídos por bombardeios ou invasões israelenses, tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza. Computadores pessoais e equipamentos dos jornalistas foram confiscados em algumas das invasões, e uma das jornalistas libertas está atualmente proibida de sair de casa e de acessar a internet até o fim dos procedimentos legais.
O presidente da federação, Dominique Pradalie, em comunicado, colocou que: “A FIJ insiste que a lei internacional seja aplicada, particularmente na guerra em Gaza, onde jornalistas foram visados pelo exército israelense”.
O coordenador do Comitê das Liberdades na União de Jornalistas Palestinos, Mohammad al-Laham, na semana passada, afirmou que “a dificuldade de monitorar e documentar permanece um obstáculo significativo devido à contínua e intensa natureza da agressão israelense.”
A tentativa de encobrimento do genocídio em curso não foi e nem é capaz de bloquear a informação com a tecnologia atual, mas é interessante pensar sobre a quantidade e tipos de imagens e dados que teríamos com o tamanho da imprensa que foi destruída pelo Estado sionista, caso estivesse funcionando.
Colapso da ajuda humanitária
Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA)
Segundo o comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA), Philippe Lazzarini, até mesmo os trabalhadores humanitários foram mortos por Israel. Um total confirmado de mais de 130 funcionários da UNRWA, predominantemente com suas famílias, foram mortos por bombardeios israelenses. Ele ainda declarou que este número pode aumentar e, em carta ao presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Dennis Francis, na última sexta-feira (8/12), que é: “a hora mais escura na história de 75 anos da agência.”
O secretário-geral das Nações Unidas António Guterres já havia dito que isso representa “a maior perda de pessoal na história da nossa organização”. Em 10 de novembro, o representante permanente de Israel para a ONU Gilad Erdan justificou os assassinatos: “Muitos trabalhadores da UNRWA são eles próprios membros do Hamas. Chegou a hora de acabar com esse mito de fatos fornecidos pela ONU.”
Retornando a Philippe Lazzarini, o comissário-geral da UNRWA destacou que na sequência da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, vários milhares de civis em Gaza preventivamente buscaram refúgio sob a bandeira da ONU. Desde sexta, 8 de dezembro, esse número havia aumentado para 1.2 milhões, aproximadamente metade da população da Faixa de Gaza.
“A UNRWA está, a partir de hoje, ainda em operação na Faixa de Gaza, mas por muito pouco.” No entanto, o comissário-geral afirmou que a equipe continua mantendo os postos de saúde, supervisionando os abrigos, e oferecendo apoio àqueles afetados, alguns dos quais chegam com seus filhos mortos dados os brutais bombardeios israelenses.
“Nós ainda estamos distribuindo alimentos, mesmo que os pátios e corredores de nossas instalações estejam cheios demais para andar. Nossa equipe leva os filhos para o trabalho, para saber que eles estão seguros ou para que possam morrer juntos”, continuou.
Um mínimo de 70% dos membros da equipe da UNRWA foram deslocados de suas casas, disse Lazzarini, enfrentando escassez de alimentos, água, e abrigo adequado.
“Estamos nos segurando pelas pontas dos dedos. Se a UNRWA colapsar, a assistência humanitária em Gaza também colapsará.”
“Sem abrigo seguro e auxílio, os civis em Gaza arriscam a morte ou serão forçados para o Egito e além. O deslocamento forçado para fora de Gaza pode acabar com as expectativas para uma solução política que é intrínseca ao mandato da UNRWA, com graves riscos para a paz e segurança regional. Um deslocamento forçado para além da terra palestina, reminiscente da Nakba de 1948, deve ser impedido.”
“Nos meus 35 anos trabalhando em emergências complexas, eu nunca escrevi tal carta — prevendo o assassinato da minha equipe e o colapso do mandato que esperam que eu cumpra.”
Ele concluiu pedindo um cessar-fogo urgente em Gaza.
Ainda alguns detalhes, em 18 de novembro foi noticiado o massacre de mais de 50 pessoas num ataque israelense à escola Al Fakhoura. Em 23 de novembro, 27 pessoas foram mortas em outro ataque do sionismo, na escola Abu Hussein.
Ao menos 47 prédios da UNRWA sofreram danos durante a guerra.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo afirmou que “a população de Gaza logo começará a morrer de doenças além do bombardeio israelense.”
Em 2 de dezembro, o diretor de assuntos da UNRWA em Gaza, Thomas White, emitiu um alerta sobre a escalada de um surto de hepatite A na região.
Organização das Nações Unidas
O subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU Martin Griffiths também alertou sobre o colapso dos esforços humanitários da ONU, em meio ao retorno e escalada dos ataques israelenses.
De acordo com ele, as entregas e operações de ajuda estão à beira do colapso e se deterioraram a um “programa de oportunismo humanitário”.
“É errático, inconfiável, e francamente, é insustentável”, disse Griffiths sobre a operação da ONU na Faixa de Gaza após Israel começar a bombardear pesadamente tudo, inclusive os locais para abrigo de refugiados.
A operação israelense “fez com que nenhum lugar seja seguro para os civis no sul de Gaza, que foi um pilar do plano humanitário para proteger os civis e portanto garantir-lhes ajuda.”
Com o sul de Gaza “sem locais de segurança”, o plano da ONU ficou “arruinado”, explicou.
“Nós não temos mais uma operação humanitária no sul de Gaza que possa ser chamada por este nome”, destacou o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU.
Na quarta-feira, Israel anunciou sua decisão de revogar o passaporte de residência da coordenadora humanitária da ONU Lynn Hastings. Na segunda-feira, ela havia dito: “as condições necessárias para entregar a ajuda à população de Gaza não existem.” E “se possível, um cenário ainda mais infernal está prestes a ocorrer, um em que as operações humanitárias não consigam mais atender.”
“Nenhum lugar é seguro em Gaza e não há mais lugar algum para onde ir.”
A justificativa do sionismo foi a recusa da mesma em condenar o Hamas e a operação Dilúvio de Al-Aqsa.
Organização Mundial de Saúde
O porta-voz da OMS Christian Lindmeier informou a repórteres também na sexta-feira (8/12) que o sistema de saúde em Gaza se encontra em estado deplorável e não suportaria a perda de mais uma ambulância ou de um único leito hospitalar. “A situação está ficando mais e mais horrível a cada dia… inacreditável, literalmente”, ele disse.
Na quinta-feira (7/12) à noite, o Escritório para a Coordenação de Ações Humanitárias da ONU informou que apenas 14 dos 36 hospitais em Gaza estão funcionando em qualquer capacidade.
Mais cedo na semana, o diretor-geral da OMS Tedros Adhanom Ghebreyesus denunciou que “Israel alertou a OMS para retirar suprimentos médicos de dois armazéns no sul de Gaza”
Israel respondeu que a remoção era necessária, pois sua operação terrestre no sul de Gaza os tornaria inutilizáveis.
Ghebreyesus disse ainda que a OMS apelou a Israel pela retirada desse pedido e para que tomasse “cada medida possível para proteger os civis e a infraestrutura civil, inclusive hospitais e instalações humanitárias.”
Até o momento, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 17.700 palestinos foram mortos, sendo mais de 7.000 crianças, e 46.000 ao menos ficaram feridos.
O genocídio, a limpeza étnica em curso é uma demonstração da “humanidade” das chamadas democracias imperialistas. Ao passo em que o imperialismo busca depositar a responsabilidade pela carnificina no governo de Benjamin Netanyahu, é a própria ala imperialista dita democrática a maior apoiadora do que ocorre, em especial o presidente dos EUA, Joe Biden, do Partido Democrata. A “única democracia do Oriente Médio”, como se propagandeou anos a fio, é na realidade um verdadeiro Estado nazista, sem qualquer hipérbole no emprego do termo.
Como demonstrado, as organizações citadas servem ao imperialismo, e são incapazes de adotar qualquer ação para colocar fim ao genocídio. Apenas a luta encarniçada da resistência armada palestina e a solidariedade da classe trabalhadora internacional podem garantir a vitória. É preciso ampliar a campanha em defesa da Palestina. Junte-se já aos Comitês de Luta, contribua de todas as formas que puder. Neste momento, todo apoio é mais que necessário, é urgente.