O genocídio na Faixa de Gaza, realizado pelo Estado de “Israel”, gerou enormes manifestações de solidariedade dos povos oprimidos em todo o mundo. As manifestações acontecem no mundo inteiro e todos os dias, mas em alguns locais onde há mais organização a luta se desenvolve de outra forma. É o caso dos operários portuários da Índia que estão organizando um bloqueio ao envio de mercadorias, principalmente armamento, para “Israel”, seguindo a política do Iêmen de bloquear todo o acesso ao Mar Vermelho ao Estado sionista. Os sindicatos dos portuários já estão praticando esse bloqueio.
O secretário-geral do sindicato dos trabalhadores portuários indiano afirmou que os operários não irão manusear nenhuma carga que seja destinada ao “assassinato de pessoas inocentes”. Essa resolução foi tomada seguindo uma resolução da Federação Mundial de Sindicatos, o que é mais uma demonstração do apoio gigantesco à Palestina que existe na classe operária internacional.
Achin Vanaik, um dos militantes ligados ao movimento, afirmou: “antes de tudo, nossa demanda central deve ser por um cessar-fogo; cabe aos palestinos decidirem qual é o seu direito à autodeterminação; devemos exercer pressão pelo cessar-fogo. Uma coisa que este regime colonial de Israel não pode fazer é o que outros regimes coloniais fizeram, e estou falando sobre os Estados Unidos, América do Norte e do Sul, Oceania, Austrália. Lá, eles conseguiram exterminar a população indígena; no entanto, isso não acontecerá aqui; a resistência do povo palestino, geração após geração, após geração, é algo notável dentro dos territórios ocupados.”
Ele prosseguiu criticando os governos árabes que não atuam: “nos países árabes, não importa o que digam que os governos fizeram porque eles não fizeram o suficiente. Verbalmente? Sim, Condenação etc, Tudo bem. Mas eles usaram a sua principal arma, o petróleo? Não. Eles romperam seu apoio como parte dos Acordos de Abraão? Não. O governo indiano seguiu essa abordagem e quer continuar sua relação com Israel”.
Esse caso é uma demonstração do efeito da questão palestina em toda a classe operária mundial. Até na Índia, onde há uma campanha fervorosa contra o islã vinda da extrema-direta, a questão palestina gera uma crise. O governo lá tentou ao longo dos últimos meses apoiar o Estado de “Israel”, mas teve grandes dificuldades. A classe operária foi o grande fator de pressão e ainda está gerando uma crise para o governo. É semelhante ao que ocorre no Brasil, onde o bolsonarismo se aglutina em torno do sionismo, e a classe operária tende a se aglutinar em torno da defesa da Palestina.
O caso também é interessante, pois demonstra que a luta pela Palestina faz avançar a organização da classe operária. A defesa da Palestina foi capaz de organizar os trabalhadores portuários a ponto de definir qual carga deve ou não ser enviada. A transformação dessa mobilização em uma luta pelos seus próprios interesses, em seu próprio país, é um caminho natural. Isso é algo que tende a acontecer em todo o mundo, a mobilização é um fator de enorme progresso.
Em relação ao bloqueio do envio de armas, a deliberação do sindicato aconteceu após o anúncio da grande empresa de armamentos Adani de que fabricaria e enviaria VANT (drones) militares para “Israel”. É uma ação tão impopular que ambos os governos, de “Israel” e da Índia, se negaram a firmar publicamente o acordo.
O sindicato ainda convocou todos os trabalhadores de todo o mundo a se unirem à luta por uma Palestina livre, exigindo a um cessar-fogo imediato para por um fim imediato ao genocídio na Faixa de Gaza.
A nota do sindicato vale a pena ser lida na íntegra:
A Federação dos Trabalhadores do Transporte Aquaviário da Índia, representando mais de 3500 trabalhadores nos 11 principais portos do país, decidiu recusar o carregamento ou descarregamento de cargas militarizadas de Israel ou de qualquer outro país que possa lidar com equipamentos militares e carga associada para a guerra na Palestina.
Nós, os trabalhadores portuários, parte dos sindicatos trabalhistas, sempre nos posicionaremos contra a guerra e a matança de pessoas inocentes, como mulheres e crianças. O recente ataque de Israel à Faixa de Gaza mergulhou milhares de palestinos em sofrimento e perda. Mulheres e crianças foram despedaçadas pela guerra. Pais não conseguiram reconhecer seus filhos mortos em bombardeios que explodiam por toda parte.
Neste momento, nossos membros do sindicato decidiram coletivamente recusar o manuseio de todos os tipos de cargas militarizadas. Carregar e descarregar essas armas ajuda organizações a terem a capacidade de matar pessoas inocentes.
Portanto, nós, os trabalhadores portuários indianos de vários portos importantes ativos no setor de manuseio de carga, pedimos aos nossos membros que não manuseiem mais navios que transportem material militar para a Israel.
Também pedimos um cessar-fogo imediato. Como sindicatos responsáveis, declaramos nossa solidariedade àqueles que lutam pela paz. Apelamos aos trabalhadores do mundo e às pessoas que amam a paz para apoiarem a reivindicação por uma Palestina livre.